Nádia Balladares Barcellos
O exílio é uma forma de punição aplicada desde a Grécia antiga. A punição política conhecida por Ostracismo era utilizada em Atenas desde 509 a.C. e foi adotada, mais tarde, pelos "governos de Argos, Megara e Mileto". Trata-se de um castigo
cuja aplicação consistia no abandono forçado da pátria natal pelo condenado, por
um período de cinco a dez anos. A realização do desterro era decidida por um conselho, através de votação em plebiscito, devendo atingir seis mil votos. Segundo Maria José de
Queiroz, a punição não era uma medida contra crimes e maldades, mas sim um
castigo ao orgulho que estava ligado ao abuso de poder e não representava a justiça,
ainda que a intenção inicial fosse essa: “embora inspirado pelo ideal grego de
equanimidade, sua aplicação nem sempre respondia ao ideal de justiça.
Interesses criados, injunções políticas, perseguições e apadrinhamentos
desvirtuaram-lhe a prática” (QUEIROZ, 1998, p. 21).
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A pesquisadora pontua também que a prática
passou a ser instrumento de vingança de forma declarada, já que delitos mais
graves não receberam a aplicação dessa pena.
Em tempos atuais, e em terras não tão
distantes de nós, essa forma de abuso de poder cometida por políticos também
acontece - caso da América do Sul e da Europa. Quando pensamos em exílio, de
acordo com as referências que possuímos, é comum ligarmos a punição a crimes
políticos. Isso porque essa prática se mostrou bastante comum em países que
viveram sob regimes ditatoriais. Assim, ainda que tenham ocorridos outros casos
de crimes punidos com exílio, estes, na maioria das vezes, não chegaram ao
conhecimento do público ou não foram tratados com a devida importância.
O castigo de isolamento de um individuo por
razões políticas foi bastante retratado por diversos escritores e poetas, e
seus relatos muitas vezes foram baseados em suas experiências pessoais. Esse é
o caso de Jorge de Sena, poeta, escritor e crítico português que viveu exilado
– e por isso tem sua biografia estudada por vários pesquisadores.
Segundo Francisco Cota Fagundes (1999), o
exílio significa muito mais do que ausência do lugar onde se nasceu e viveu, “consiste
na existência do amor pela terra natal e nos laços que nos ligam a ela”. E é por
causa desse sentimento que, de forma recorrente, autores escrevem sobre o tema em
poemas e na literatura de uma forma geral. O exílio, que ocorre por motivo político, traz
consigo uma reação dúbia para o autor/exilado, talvez pela forma com que essa
ruptura acontece.
Edward W. Said fala sobre o fato dessa
transição, desde o momento em que deixa de pertencer ao lugar de origem até a
tentativa de aquisição de uma nova identidade, nunca preencher o exilado por
completo:
E logo adiante da fronteira entre nós e os outros está o perigoso território do não pertencer, para o qual, em tempos primitivos, as pessoas eram banidas e onde, na era moderna, imensos agregados de humanidade permanecem como refugiados e pessoas deslocadas. [...] O exílio, ao contrario do nacionalismo, é fundamentalmente um estado de ser descontinuo. Os exilados estão separados das raízes, da terra natal, do passado. Portanto, os exilados sentem uma necessidade urgente de reconstituir suas vidas rompidas [...] (SAID, 1999, p. 50).
Embora o exilado sinta essa necessidade de ter sua identidade e pátria restituídas, ele não se engana com a ilusão de que a nova pátria vai suprir completamente esse vazio. Como explica Said, muitas vezes o exilado enxerga essa pátria como temporária e não definitiva:
O exilado sabe que, num mundo secular e contingente, as pátrias são sempre provisórias. Fronteiras e barreiras, que nos fecham na segurança de um território familiar, também podem se tornar prisões e são, com frequência, defendidas para além da razão ou da necessidade (SAID, 1999, p. 58).
Quando ocorre o primeiro contato com a
pátria de origem, o regresso, muitas vezes o exilado se sente deslocado e não
reconhece por completo aquele lugar que deixou pra trás. Acontece um choque intercultural
e, segundo Fagundes (1999), a literatura e/imigrante mostra um bom exemplo de
como essa visita é marcante e traz ao exilado a sensação de ‘desadaptado da
pátria’ quando a compara com o país que lhe acolheu. Ainda segundo Fagundes, em
alguns casos, esse reencontro com a pátria serve para dar ênfase à condição de
exilado:
[...] é um alienado reencontro com a pátria de origem e a confirmação de seu estatuto de permanente exilado. Essa condição de permanente exilado e cidadão do mundo (sendo esta última categoria rubricável como o lado positivo desse exílio) já fora anunciado/prenunciado, entre vários outros textos poéticos e de ficção [...] no celebre poema <<Em Creta, com o Minotauro>> (escrito em Julho de 1965) (FAGUNDES, 1999, p. 105).
Os autores aqui discutidos apontam a existência
de um sentimento conflitante do exilado com relação a sua pátria. O exilado
pode rejeitá-la, porque foi rejeitado anteriormente, e romantizar a distância, uma
vez superado o ódio inicial, sem, contudo, se identificar novamente com a
pátria, após o retorno. Pode também sentir que sua nova morada é acolhedora ou
simplesmente se sentir um eterno expatriado (por conta da hibridização de
culturas), independentemente de onde estiver vivendo.
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Referências:
FAGUNDES, Francisco Cota. O retorno de um exilado. Subsídios para o estudo dum drama humano na poesia de Jorge de Sena. In: G. Santos (org.), Jorge de Sena em rotas entrecruzadas. Lisboa: Cosmos, 1999.
QUEIROZ, Maria José. Os males da ausência ou A literatura do exílio. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
SAID, Edward W. Reflexões Sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Cia. Das Letras, 2003.
Ilustrações
Clickgrátis. s/ título. In: Imagens de Exílio. s/d.
Disponível em: <http://www.clickgratis.com.br/fotos-imagens/exilio/?PageSpeed=noscript> Acesso em: 20/10/2015.
FAGUNDES, Francisco Cota. O retorno de um exilado. Subsídios para o estudo dum drama humano na poesia de Jorge de Sena. In: G. Santos (org.), Jorge de Sena em rotas entrecruzadas. Lisboa: Cosmos, 1999.
QUEIROZ, Maria José. Os males da ausência ou A literatura do exílio. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
SAID, Edward W. Reflexões Sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Cia. Das Letras, 2003.
Ilustrações
Clickgrátis. s/ título. In: Imagens de Exílio. s/d.
Disponível em: <http://www.clickgratis.com.br/fotos-imagens/exilio/?PageSpeed=noscript> Acesso em: 20/10/2015.
RIBEIRO, Daniel. Exílio. In: Madrugada à Ribeiro: devaneios de um coração que mais parece um campo minado. Rio Branco: 16/08/2011. Disponível em: <http://madrugadaaribeiro.blogspot.com.br/2011/08/exilio.html> Acesso em: 20/10/2015.
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